"Era uma pessoa extremamente tímida e aconselhada pelo meu pai entrei em um curso de teatro, assim que estreei minha primeira peça em Curitiba tive a certeza que havia encontrado meu caminho".
Fernanda Thurann, 36 anos, nasceu em Curitiba onde estudou na escola Cena Hum. Em 2006 mudou-se para NY para estudar teatro na The Lee Strasberg Theatre & Film Institute, conhecida por ter criado "O Método" a partir do que se chamava "System", de Konstantin Stanislavsky, mais tarde desenvolvido também por Lee Strasberg (no Group Theatre, no Actors Studio e depois no Institute). De volta ao Brasil, depois de um ano, cursou a Cal (Casa das Artes de Laranjeiras, no Rio de Janeiro.
No primeiro semestre de 2009, uniu-se a um grupo ligado ao teatro onde realizou a montagem de "O Mambembe", de Arthur Azevedo sob a direção de Almir Telles (seu professor na Cal). Ainda no teatro montou "Diários do Paraíso", de Caio de Andrade, e "Perto do Coração Selvagem", de Clarisse Lispector, com direção de Luiz Arthur Nunes. Logo depois, participou da montagem de "Nó do Coração", dirigida por Guilherme Leme e "Tudo que está ao meu lado", de Fernando Rubio. Em 2018, como produtora e atriz, fez a peça "Dogville", em parceria com o seu sócio Felipe Lima, no RJ e SP, com apresentações que no Teatro Municipal de SP, uma temporada no CCBB de Brasília e de Belo Horizonte. Atualmente está em cartaz com o espetáculo "Os Encantados do Sossego" que estreou em Belém do Pará no Teatro Waldemar Henrique, teve uma temporada de sucesso no CCBB RJ e segue para o CCBB SP no dia 04 de novembro.
Paralelo a tudo isso, o cinema surgiu na sua vida. Primeiro com os curtas "Ausência", que competiu no Festival Visões Periféricas, e "Isso é Normal", que estreou no Festival Mix Brasil em 2015. Participou ainda dos longas, "Cartografia das Ondas", de Helena Machado, e "Pedro Sob a Cama de Paulo Pons" que participou da 27º Edição Festival Ibero-americana Cine Ceará, ainda no cinema, em 2018 participou do Docudrama vencedor do prêmio Documentary Award Director Recognition no LABRFF "Rogéria, Senhor Astolfo Barroso Pinto" como atriz e produtora executiva, em 2019 do longa de terror "Cabrito" vencedor de mais de 30 prêmios internacionais e do drama ficcional "Paula". Em 2021 lançou como coprodutora o aclamado "Medusa" que teve sua estreia na Quinzena dos Realizadores, exibição paralela ao Festival de Cannes, premiado como Melhor Longa Metragem Ficção, Melhor direção e Melhor atriz coadjuvante no Festival do Rio 2021, atualmente está em cartaz na França e nos EUA. No primeiro semestre de 2022 Fernanda estreou na Netflix com a série "Maldivas" que já está com as temporadas 2 e 3 confirmadas.
No momento está com um novo projeto, Ecoando Musica que é um movimento artístico em prol da cena independente que revela novos artistas com o propósito de reunir pessoas que através da música possam ser conectadas a algo além do entretenimento, o festival aconteceu recentemente, em outubro de 2022 no Arpoador, unindo assim a música e o audiovisual.
A seguir apresentamos Fernanda Thurran com a sua paixão por estar no palco.
VAM: Pela sua trajetória nota-se a paixão pelo teatro, audiovisual e música. Vamos começar pelo teatro? Qual foi seu fio condutor para seguir a carreira de atriz?
R: Curiosamente a carreira de atriz surgiu depois de entrar na faculdade de Direito. Era uma pessoa extremamente tímida e aconselhada pelo meu pai entrei em um curso de teatro, assim que estreei minha primeira peça em Curitiba tive a certeza que havia encontrado meu caminho. A paixão por estar no palco, a comunicação, a troca com o público é o que até hoje me impulsiona a seguir.
VAM: Em 2009 você realizou montagens teatrais ligadas a grupos de teatro. Passados mais de dez anos da sua estreia, como você avalia, nos dias de hoje, montar um espetáculo? Existe esse fôlego? Quais são as maiores dificuldades?
R: Dar vida a cultura no Brasil não é lá uma coisa muito fácil de fazer, sabemos de todas as dificuldades, mas quando se ama o que faz, tem vontade de fazer e conhece pessoas com a mesma vontade que você, o caminho fica menos doloroso.
Somos um grupo muito grande e muito diverso de profissionais que trabalha em sua maioria como autônomos e microempreendedores individuais com apenas um objetivo: levar arte para a vida das pessoas. Arte para chorar, para rir, se emocionar, escapar da realidade ou escancará-la nua e crua. E precisamos sim de medidas por parte das autoridades que suportem a cultura e seus profissionais.
VAM: Você está em turnê nacional com o monólogo “Os Encantados do Sossego” que já passou por Belém, Curitiba, Rio de Janeiro e Pontal do Sul. No dia 4 de novembro – CCBB, será a vez dos paulistas assistirem à essa produção. Sua parceria com a diretora do espetáculo Monique Sobral DeBoutteville, já tem um tempo. Conte-nos um pouco sobre essa experiência.
R: Quando eu voltei de NY, fundei o até então Grupo 4 Pontas, atual Brisa Filmes em sociedade com a Monique DeBoutteville para fazer “O Mambembe”, essa foi a nossa primeira produção teatral.
Essa alternativa na verdade foi porque entendemos que esperar um convite para desenvolver essas produções poderia demorar mais do que gostaríamos. Depois de realizarmos outras produções teatrais começamos a produzir curtas metragens e longas. Baseado na tese de Doutorado da Monique, surgiu o espetáculo “Os Encantados do Sossego” e a vontade dela de dirigir. Além de amigas e sócias, agora nos experimentamos em diferentes setores da criação que se iniciou como atrizes dividindo palco.
VAM: Atriz e produtora. Como é pra você desempenhar esses dois papéis?
R: Como atores, muitas vezes não temos a opção de escolher os projetos para os quais nos convidam, estamos sujeitos ao olhar do outro, a como autores, diretores e produtores nos veem e muitas vezes não nos é oferecida a oportunidade de experimentar outros voos. Quando optamos por empreender, por produzir nossos próprios projetos, não apenas ganhamos essa liberdade conseguindo escolher as personagens as quais gostaríamos de interpretar, como também conseguimos escolher com quem gostaríamos de trabalhar e também como queremos nos expressar como artistas: Que tipo de discussão queremos levantar, que tipo de discurso achamos importante fomentar na sociedade... torna tudo muito mais amplo, mais potente. Acreditar na arte como uma das maiores e mais poderosas ferramentas de “reflexão”. É através de histórias com as quais nos identificamos que muitas vezes saramos, entendemos ou nos encorajamos a seguir a diante. Contar uma boa história e ver como essa história impacta em cada pessoa.
VAM: No audiovisual seu paralelo é claro nessas duas funções. Com inúmeros prêmios internacionais sua meta é produzir cinema fora do Brasil?
R: Acredito que todo produtor deseja ter a experiencia de produzir em outros países. É uma longa estrada, mas tenho certeza que muito em breve surgirão oportunidades.
VAM: Como você lidou pessoal e profissionalmente com a pandemia? Os projetos foram suspensos?
R: Os primeiros dias foram um pouco confusos, sem saber direito o que fazer, como organizar o tempo e tendo milhares de opções de cursos, “lives” no Instagram de yoga, ginástica, plataformas de streaming liberando conteúdos incríveis. Isso tudo me gerou uma certa ansiedade, uma necessidade de querer fazer mais e mais, tudo ao mesmo tempo. Mas entendi que o momento pedia justamente o contrário, acalmar, desacelerar... Fui criando minha pequena rotina, que incluía meditar, fazer yoga, ler, ver filme ou série. Apesar dos projetos terem sido suspensos, tive a oportunidade de pensar em novos formatos, apresentamos uma versão de “Dogville” on-line e através do edital da FUNART apresentamos também on-line um trabalho de pesquisa do espetáculo “Os Encantados do Sossego”.
VAM: E a música? Você está produzindo o “Festival Ecoando”. Fale-nos sobre esse projeto.
R: O “Ecoando” é um movimento inclusivo, integrativo e democrático que traz novos artistas e novos olhares formando uma nova cena musical. Iremos dar luz, voz e espaço para novos artistas de uma forma única. Não é só sobre musica, mas como música pode melhorar as pessoas e como as pessoas podem melhorar o mundo ao nosso redor.
E desse movimento surgiu o “Festival Ecoando” que trará um “lineup” diversificado com artistas que estão surgindo no cenário nacional de uma forma única em um local emblemático da musica brasileira: O Arpoador!
Através do evento unir nossos valores: Pessoas, música e sustentabilidade. Uma experiência de entretenimento com propósito.
VAM: Fernanda Thurann por Fernanda Thurann.....
R: Como disse Clarice Lispector: “Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada”.
Fotos: VINÍCIUS MOCHIZUKI
Entrevista: Antonnio Italiano
Editor Chefe: Antonnio Italiano
Direção de estúdio: Rodrigo Rodrigues
Figurino: Maison Revolta ( @maisonrevolta )
Assessoria de imprensa: Equipe D Comunicação